domingo, 3 de abril de 2011

alguém a bordo


Eu sou alguém á bordo, numa viagem pra não sei onde.
Levo comigo um diário amarelo e um pedaço de lápis,
umas mudas de roupas, um casaco surrado, um narguilé.
Levo lembranças, cartas antigas, retratos esmaecidos.
Amores incondicionais, paixões turbulentas, afetos e fé!
Saudades de tudo que vivi e de tudo que não pude viver.
Um monte de amigos no peito, e muitos muitos desejos.
Desejos dos mais diversos e dos mais variados tipos.
Levo flores, incensos,  um bocado de bugigangas bobas.
Até velas, luvas, batas brancas, cachorros, gatos e sapatos.
Levo laços e fitas coloridas, lixos acumulados durante a vida.
Levo livros, sombras e dúvidas, e tempestades em copos d'água.
E na memória levo as letras das músicas mais lindas que já ouvi.
Uma parada de fumo, uns cogumelos secos, ácidos lisérgicos...
E saudades das viagens inesquecíveis que fizemos ínumeras vezes.
Levo as certezas, as incertezas, os antes e depois, os atés, os talvezes.
Levo tantas coisas! Leves, pesadas, raras, inúteis, imprescindíveis...
Tantos sonhos, medos, apegos, desapegos, experimentações e afins.
Temo pagar excesso de bagagem nessa viagem pra não sei onde...
Mas também não encontro um guarda-volume pra caber tanta coisa!