sábado, 19 de dezembro de 2009

Uma fada invisível caminhando por seu jardim...



Caminho por seu jardim perdido,
catando flores, folhas, migalhas,
ervas daninhas, paus e pedras.
Invadindo seu espaço, remendando cacos...
Fazendo meu ninho com as sobras do seu tempo.
Caminho por seu jardim, displicentemente,
ao acaso, ao sabor do vento.
Semeando versos tímidos, desajeitados...
Aguando com lágrimas plantas ressecadas,
restaurando canteiros e vasos quebrados.
Caminho por seu jardim tão levemente,
como se por um momento fosse uma fada.
Uma fada invisível,  sem asa, sem nada...
Fadada a indiferença e ao esquecimento!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Seus olhos são meus...



Seus olhos pousaram nos meus
por tempos imemoriais...
Despiram minha alma amarga,
adoçaram meus lábios, meus ais...
calaram minha boca ávida,
soltaram os nós, as amarras,
desse meu corpo moído,cansado!
apararam minhas sobras e farpas.
Seus olhos iluminaram os meus.
Abriram as minhas portas, todas!
Seus olhos são minha cura, minha calma!
Eles são as janelas da minha alma...
Me livram de dúvidas, de todo o talvez.
São seus olhos que me vêem de fato,
e que me fazem enxergar outra vez...
Seus olhos por vezes são os meus,
que me olham de dentro pra fora,
escondidos onde não sei...

Adeus...



Quando eu bati a porta do meu coração
na sua cara,
e disse que tava só dando um tempo...
Te enganava.
Meu relógio corre ágil e  ligeiro
companheiro
meu dardo é certeiro e solitário
meu caro
os caminhos que ouso percorrer
são outros que não os seus...
Adeus!

sábado, 24 de outubro de 2009

solidão...



A solidão é um manto frio
que me cobre os ombros.
Os escombros de uma casa velha,
onde dantes morou um infeliz.
É um mantra triste de um sadu louco,
os versos roucos de um poeta indeciso.
O decote preciso no peito da meretriz.
A minha solidão...
É o corte impreciso de uma faca cega.
Uma cabra-cega tateando o muro.
um sopro de vela ardendo no escuro.
A solidão é minha,
é companheira.
Mora na cabeceira da minha cama,
me seduz, me acaricia, me ama.
A solidão me chama toda hora,
a noite inteira!

domingo, 13 de setembro de 2009

O fosso e o nirvana


Enquanto eu caio na fossa,
você atinge o nirvana.
Eu me contorço em versos,
você  se senta em flor de lótus.
Eu faço votos, promessas,
passo fome, esmolo...
Me enrolo em solidão,
peço perdão, me redimo.
Tenho paixão e autocompaixão,
febre, tristeza,  tenho medo!
Você sorri e toca violão.
Você é quase um saniasi,
vive no topo do himalaia.
Eu, talvez caia, mas me seguro.
Ando perdida, por aí a esmo...
Ando mesmo atirando no escuro.
Minha flecha é cega, é incerta...
Meu arco está todo quebrado.
Mas minha porta está aberta,
esperando talvez o sol entrar.
Você...  você já tem o sol em si!

sábado, 12 de setembro de 2009

Jardim insólito.


A solidão me atrai, me seduz,
me encanta, me amedronta, me vicia...
A solidão me alicia e me mata aos poucos.
Ela crava um espinho de cactus em mim.
Depois sopra uma canção e me embala,
me enrola em sua névoa cinzenta cambraia,
e em meu coração infértil e louco,
planta uma semente murcha de jasmin.
A solidão faz dele sua morada,
rega a semente murcha, todo santo dia.
Nasce em mim uma flor estranha, solitária...
Cujo aroma se assemelha a nostalgia.
A solidão com ciúmes vai embora cedo.
Eu fico aqui cuidando desse jardim insólito,
regando com lágrimas flores estranhas,
com cheiro de tristeza, piedade e medo

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A menina que vivia aqui voou...



A menina que morava aqui, em mim,
saiu pra passear, nem voltou mais.
Vestiu seu melhor vestido,
calçou seu sapato novo,
passou batom borrado nos lábios.
perfume de manga jasmin...
Se foi assim, de uma hora pra outra.
Nem se despediu, nem levou bagagem.
Não deixou nada além de saudades.
Lembranças, retratos, bugingangas...
Não fez cobranças, não pagou contas.
nem ficou me devendo nada,nada!
Nada que um dia eu possa cobra-la.
A menina que morava em mim,
apenas se cansou de tudo,
Meu mundo estava pequeno,
pra caber suas asas.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Barganha



Te dou um doce por seus sonhos,
te dou um sonho por seus beijos,
te dou amor por seus pensamentos,
te dou momentos de prazer...
Por um olhar de ternura.
Te dou minha mão em sua angústia,
por uma lágrima que seja pura.
te dou um giga de memória
por todos os seus brancos,
te dou um sorriso franco
por um simples riso amarelo.
Te dou tudo que eu quero,
e um coração pra você brincar.
Te dou a lua, o sol, o mar...
Por uma palavra qualquer,
sussurrada em meus ouvidos.
Te dou os dias que virão,
e a lembrança dos dias idos...
Te dou o que você pedir
por um segundo ao seu lado.
De dou minha felicidade
por seu fardo,
te dou meu fado, meu tango,
meu samba, minha toada...
por um esboço de verso
e mais nada!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Meu vestido de cetim



Meu vestido de cetim era lindo.
Tinha desenhos de sonhos,
estampados em fios de linhas mágicas.
Me fazia viajar no tempo...
Resgatar afetos escondidos
num passado longíquo.
Meu vestido de cetim era encantado.
Me levava onde eu queria ir...
Me vestia de fada ou de princesa.
Reluzia à luz do sol,
brilhava à luz da lua...
Meu vestido de cetim,
era tudo que eu queria ter.
Me fazia ser a mais bela.
E ele nem sequer me olhou...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

"Não seio ler..."




Atiro a primeira pedra!
Nego a outra face.
Olho por olho, dente por dente.
não perdôo setenta vezes sete.
Nem acredito em ninguém,
com mais de trinta...
Acordo tarde, não madrugo!
De grão em grão, sinto fome.
Tenho pressa e inimigos.
e tantas pedras no sapato.
Eu tenho sede de quê?
Não sei dançar balé,
"não seio ler"...
Mamei até os seis,
mas minha mãe morreu,
antes de eu fazer oito.
Tenho doze, e dezenas,
centenas... De marcas,
de picos, pancadas, facadas,
quedas, tiros, porradas.
Sou suceptível a cicatrizes!
sou um alvo fácil...
Estou com sono e cansado.
Meu tempo é curto!
E isso é tudo que sei
de mim.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Uma água que cai, e escorre...




A chuva chora lá fora,
geme seu mantra frio,
molha tudo em volta...
eu, envolta em lençóis,
chovo por dentro também.
Canto meu mantra úmido,
ávido, cético, púrpuro.
Canto meu mantra bárbaro.
A chuva chora, não para!
Maltrata tetos de zinco,
pétalas de rosas cálidas,
a chuva não cala...
Agora sussurra pálida,
respinga lama, dejetos...
Parece cansada, vencida.
Respira, retorna, forte!
canta seu mantra crescente.
A chuva chora, grita, uiva.
Sem controle, obsessiva!
A chuva não cala, não pára!
Escorre abundante, frenética.
Eu, envolta em lençóis...
Chovo baixinho, com medo.
Choro uma chuva gelada.
Gemo meu mantra, obsoleto.
Eu e a chuva fria...
Somos uma coisa
só!

domingo, 10 de maio de 2009

A borboleta lilás que queria me beijar...


Pintei de cor de rosa
as asas da borboleta azul
ela ficou tão feliz, tão lilás!
Queria até me beijar...
Eu também queria, mas não deixei!
Puro medo de me apaixonar.
A borboleta lilás e feliz
bateu as asas e voou pra longe,
pra um país bem distante,
onde é comum beijar borboletas...
Mas lá não existe tintas,
nem pincéis...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A menina do deserto e o baton vermelho


A menina vivia no deserto,
eu estava apenas de passagem.
Eu só queria silêncio, paisagem...
ela queria algo, alguma coisa,
qualquer coisa, de mim.
Eu tinha um batom vermelho!
Nunca mais vou esquecer
aquele sorriso de boca pintada,
flutuando pelas dunas perdidas
de Jaizalmer...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Catando estrelas por aí...


Era sábado de manhã, eu catava estrelas na esquina,
tinha um monte delas escorrendo pelos meus dedos
e eu com medo de não achar uma caixinha para guarda-las.
me lembrei de quando era menina e guardava meus sonhos
em caixinhas de fósforos, junto com vagalumes mortos...
Eu acreditava que um dia eles iriam ressuscitar.
Os sonhos, e os vagalumes!

domingo, 26 de abril de 2009

Eles estão por aí, em qualquer lugar... e no meu altar de toalha branca.



São tantos meus santos...
Uns tão puros, outros nem tanto.
Sadus, mendigos, músicos, profanos,
profetas, libertários, ioguis, insanos,
andarilhos, ermitões, poetas, mundanos.
São tantos meus santos, são tantos...
Canonizados, carbonizados, esquisitos,
maltratados, amarelados, esmaecidos.
Catalogados no meu velho diário.
Eles enfeitam meu altar de toalha branca,
onde ainda ajoelho e rezo, versos esquecidos.
Nem sempre me trazem paz, muitas vezes espadas.
Dileceram meu coração, depois colocam bandagens.
Sopram nos meus ouvidos verdades, mentiras, bobagens.
Me açoitam e me assopram, depois propõem beberagens,
brindes, camaradagens, reconciliações, viagens...
São loucos, inseguros, sábios, imaturos... Meus santos!
São Joãos, Gilbertos, Johns, Tons, Zés, Pedros, Luíz, Bobs, Ramons,
Elísias, Elis, Julias, Marias, Zulmiras, Reginas, Déboras, Dolores,
Klimts, Jacks, Corsos, Belchiors, Basquiats, Jorges, Gabrieis,
Mirós, Chicos, Vinícios, Paulinhos, Ernestos, Benjamins, enfim...
São tantos meus santos, uns tão puros, outros nem tanto.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

existirmos... pra que?



Em certos momentos nada parece fazer sentido
nem os dias que virão, nem os dias idos...
Nem o ventilador que roda no teto
trazendo um vento que nem quero.
Nem a mosca que ronda meu rosto
molhado, suado, meio dormido...
Nem os pensamentos insistentes
que se enfileram em minha mente.
Nem o velho demente que balbucia
profecias ininteligíveis.
Nem o nível de óxido de carbono no ar,
nem o mar cheio de peixes mortos,
nem os zumbis malhando seus corpos na academias.
Nem mesmo a sopa que esfria,
enquanto ela tagarela ao telefone
com alguém que nem mesmo sabe o nome.
Em certos momentos nada faz sentido,
nem rima, nem harmonia...
Nem a teia perfeita da aranha,
tecida com tanto esmero
apenas pra capturar sua presa.
nem o vento que assanha meu cabelo,
nem o zelo da gata amamentando a cria,
a veia aorta que leva sangue ao coração,
a mão que acaricia e apedreja,
a igreja lotada, a igreja vazia...
Nada mesmo faz sentido.
Nem palavras bobas, bonitas, soltas.
Nem frases feitas, construídas,
nem frases amontoadas, metidas a poesia...
Nada faz sentido!
Nem ao menos sabemos se estamos vivos
se é verdade que existimos...
E se existirmos, qual será o sentido...