domingo, 22 de setembro de 2013

Minha saia de cetim...


Minha saia de cetim tem alma de borboleta.
Vagueia absorta por becos, vielas, ruas, jardins...
Esvoaçante, translúcida, etérea, quase abstrata.
Transfigurada em fractais multicores. furta cor!
Furta olhares, furta toda atenção ao redor.
Minha saia de cetim, vaidosa, egocêntrica!
É godê pavão! Mas tem uma alma de borboleta...

sábado, 14 de setembro de 2013

Pau e pedra

Se você diz é pedra, é peixe!
Se você diz é peixe, é pedra!
Se você diz, me deixe!
Eu simplesmente me calo.
Se você diz não olhe,
eu, fatalmente, ignoro...
Se jogo areia nos seus olhos,
você grita, não me molha!
Se prego minha fé em seu deserto,
você prega meus sonhos numa cruz!
Se piso descalça em seus desejos,
Você, sarcástico, apaga minha luz.
Se eu cuspo no seu prato que comi,
Você chora sob o meu leite derramado.
Eu sou um bezerro desmamado!
Você uma fera ferida, (e vice versa)
Se eu digo é pau! Você diz é pedra!

sábado, 24 de agosto de 2013

Tão comum...

Ela pinta a vida da cor que deseja,
pragueja com voz de veludo...
Tem medo do tempo, do vento,
tem medo do medo, medo de tudo!
Mas navega tempestades em copo d'água,
singrando a madrugada escura e fria,
cortando dezessete vezes sete ondas,
ela dorme e morre e ressuscita todo dia!
Acorda, acode, limpa, lava, tem ódio..
tece, borda,.transborda amor e alegria.
Depois perdoa setenta vezes sete vezes!
Costura, cozinha, faz bolo, ioga e poesia.
Recita versos desconexos, faz sexo!
Murmurando palavras ininteligíveis...
Chora, ora, sorri. Acredita na própria sina!
Carrega nos ombros uma vã culpa cristã,
e os pecados à  espreita em cada esquina
Ela pinta a vida de chuva, de sol, de cinza!

domingo, 30 de junho de 2013

Tortura!

Muitos sucumbiram nos porões
traídos pela sua própria carne...
O cerne sugado, machucado,
humilhado, pelos seus algozes!
Poucos deles sobraram inteiros,
poucos deles vieram à tona...
Nem foram festejados como heróis!
Tantos corpos jovens mutilados..
Tantos sonhos banhados de sangue,
tantas casas invadidas no meio da noite.
Suas camas desfeitas, suas bocas caladas,
seus punhos cerrados, e os olhos vendados!
Tapa na cara, chute na boca, choque elétrico.
Corno! Escroto! Porrada, porrada! Pau de arara!
E a história se repete sem escrúpulos por aí afora...
Ora nos livros, ora nos filmes, muitas vezes ao vivo.
Diante dos olhos de um planeta quase em chamas!


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nosso amor...

O nosso amor a gente inventa
que seja lindo, que vire lenda.
que seja leve, livre... Seja belo!
Sério, etéreo, doce, mistério.
Que seja até de brincadeira...
Que dê vexame, ou dê bobeira.
Que seja infinito enquanto dure!
O nosso amor a gente inventa,
reinventa, esquenta, requenta.
A gente acredita, ora duvida...
mas acha que é pra toda vida.
A gente mastiga depois rumina,
saboreia, enjoa, repete, deseja.
E sempre deixa a bandeja vazia.
O nosso amor é todo dia santo
é todo santo dia!


domingo, 21 de abril de 2013

Ferida

A ferida sangra ali dentro...
Afogada em agonia e lágrimas.
Encharcada de angústia, medo e mágoa.
A ferida sangra, queima, dói, supura e sara.
Depois se transforma numa tempestade
em copo d'água.

insônia

A madrugada me espia pela janela do quarto.
A lua sozinha lá fora minguando...
Procuro em vão sono e sonhos
quiça versos... Mas eles se escondem
em meio a um turbilhão de pensamentos desconexos

domingo, 24 de março de 2013

dois diferentes

Assim não vai dar certo.
Eu quero correr o mundo
você, quer ficar aqui perto.
Eu quero destino incerto
você quer  pura rotina
Eu quero olhar as meninas
você, um palmo além do nariz.
Eu já fiz de tudo nessa vida,
você nem sabe o que diz!
Assim não vai dar certo...
Somos dois tão diferentes...
Você é crente que abafa!
Eu sou um sopro que flui.
Eu lhe coloco pra cima
você só me diminui...
Assim não vai dar certo...

segunda-feira, 11 de março de 2013

Los años de mi vida...

São tantos, que nem sei quantos.
Ora tão poucos, tão parcos...
Ora tão efêmeros. Ora tão eternos!
Umas vezes tristes e melancólicos,
cinzas, vazios,  confusos, etéreos...
Outras vezes tão infinitamente
ensolarados, felizes e belos.
São los años de mi vida!
Desenhados em mim.
Nos sulcos de minha velha face
nos vasos,  nas veias, varizes...
Nas unhas curtas, sujas, rôtas.
Nos fartos seios flácidos.
São los años de mi vida!
Desenhados em mim.
Nos muros esmaecidos
da minha antiga memória.
Nas linhas das minhas mãos
enrugadas, calejadas e grossas.
Na minhas lutas, batalhas e glórias
nas minhas culpas, nas minhas falhas.
Nos meus sonhos, nas minhas estradas!
Nos meus pés que um dia foram asas!















sábado, 16 de fevereiro de 2013

Um pouco de Frida em nós...

Sofrida, calada, desatando nós!
Resgatando memórias, imemoriais.
Trazendo à tona todos as chagas e vírus,
sentimentos confusos, obscuros, soterrados...
Desembaraçando as linhas tênues do tempo.
Fechando janelas, abrindo portas, ferrolhos.
Aparando arestas. arrastando correntes,
remendando trapos, rejuntando cacos!
Há tanta Frida entranhada em todas nós!
Las llagas que arden, doler y sangran.
Las fuerzas extrañas que brotan del nada
en el interior, en el fondo,
en el fondo d'alma. 
Do mais profundo, escuro, inimaginável...
Frida, flores esmaecidas, cores que vibram.
Vícios, infortúnios, sorte, graça, desgraça!
Frida. Calo, falo, grito, aguento, sinto, muito!
Sou para sempre Frida! Ferida que sangra,
queima, arde, supura, consome e mata,
mas finalmente transcende e sara!