sábado, 31 de dezembro de 2011

Eu vi...


Vi um pássaro arrastando suas asas
tão cansado de voar...
Vi uma flor murchando
sem água pra lhe regar.
Vi uma estrela caindo,
perdida no universo.
Vi um verso escrito no muro
não deu pra ler tava escuro.
E o lodo cobrindo seu dorso
e o limo  comendo tudo...

E bem no fundo do poço
ouvi uma mulher gritando
um uivo silencioso...
Vi seu grito atravessado
como uma flexa em brasa
queimando sua garganta.
incendiando sua casa!
Vi tanta agonia ali....

Mas veio a chuva e o vento,
e eu me estiquei no tempo...
No tempo que tudo cura!
No tempo de agora e aqui!


sábado, 10 de dezembro de 2011


Eu não sei 
se o que carrego aqui dentro
são flores de plástico
ou puro lamento...


sábado, 28 de maio de 2011

Uma mulher qualquer...


Eu sou uma Maria
uma mulher qualquer.
Uma Zabé da loca,
uma louca da oca,
uma Vitória, muriçoca!
Sou cafona, cafuçu,
anjo azul...
Virgem, santa, puta,
urbana, matuta, baiana,
preguiçosa, paulistana,
paranóica!
Sou do bem,
sou má também.
Mal falada, mal amada,
atrevida, pê da vida!
Sou margarida deprimida.
Tomo vinho com lexotan,
sou tantan, sou tão forte...
Seguro a barra na marra.
mas tenho medo da morte.
Sou mala, medrosa,
sou melindrosa.
Eu sou você, sou Elza, Rosa,
Zulmira, Teresa, Débora,
Víbora, profana, sou Ana.
Do porto, das docas.
Sou Bárbara, Barbarela,
Heliodora, horrorosa e bela,
adormecida, sou cinderela!
Eu sou uma fruta gogóia,
eu sou uma flor...
Sinto arrepios e calor,
o sangue fervendo nas veias.
E nas noites de lua cheia,
uivo feito uma loba,
boba? Também sou!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Fragmentos Dylianos...


Minhas asas já não cabem mais aqui,
as pernas não alcançam os meus passos,
e as minhas mãos são tão pequenas,
pra abarcar esses sonhos tão vastos.
Aí você chega bem de mansinho...
Como um barco por entre a névoa,
singrando na escura e fria madrugada.
Com sua rouca voz inconfundível,
uma maneira de olhar tão diferente.
Me joga uma torrente de belezas
esquecidas, escondidas, intermitentes.
E me faz delirar entre lençóis mofados.
Agita meu coração tão partido...
Instiga minha cabeça tão cansada.
Mexe com as minhas entranhas...
Me confunde, assombra, arrebanha.
Depois se recolhe, e enfim se cala.
Enquanto isso descubro tantas coisas...
E outras tantas tranco em minha mala!


"O vento soa como martelo
a noite sopra fria e chuvosa.
Meu amor é como um corvo
pousado na minha janela,
com uma asa partida"




domingo, 3 de abril de 2011

alguém a bordo


Eu sou alguém á bordo, numa viagem pra não sei onde.
Levo comigo um diário amarelo e um pedaço de lápis,
umas mudas de roupas, um casaco surrado, um narguilé.
Levo lembranças, cartas antigas, retratos esmaecidos.
Amores incondicionais, paixões turbulentas, afetos e fé!
Saudades de tudo que vivi e de tudo que não pude viver.
Um monte de amigos no peito, e muitos muitos desejos.
Desejos dos mais diversos e dos mais variados tipos.
Levo flores, incensos,  um bocado de bugigangas bobas.
Até velas, luvas, batas brancas, cachorros, gatos e sapatos.
Levo laços e fitas coloridas, lixos acumulados durante a vida.
Levo livros, sombras e dúvidas, e tempestades em copos d'água.
E na memória levo as letras das músicas mais lindas que já ouvi.
Uma parada de fumo, uns cogumelos secos, ácidos lisérgicos...
E saudades das viagens inesquecíveis que fizemos ínumeras vezes.
Levo as certezas, as incertezas, os antes e depois, os atés, os talvezes.
Levo tantas coisas! Leves, pesadas, raras, inúteis, imprescindíveis...
Tantos sonhos, medos, apegos, desapegos, experimentações e afins.
Temo pagar excesso de bagagem nessa viagem pra não sei onde...
Mas também não encontro um guarda-volume pra caber tanta coisa!

domingo, 27 de março de 2011

Servidão


Beijo sua boca calada
como quem bebe
o último gole d 'água
no deserto.
Procuro seus olhos incertos
como quem busca
um farol na tempestade.
Aperto sua mão suada
como uma criança com medo
da noite escura e malvada
Abraço se corpo cansado
como se ali fosse um abrigo
depois de uma catástrofe.
Estou no limítrofe,
vivendo em perigo
navegando na fronteira
entre o amor e a servidão
como um cão sedento
esperando migalhas
e sorrindo para o seu dono...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lembranças que desfilam pela minha mente...


O tempo escorrendo pelos meus dedos...
Lembranças desfilam belas e nítidas
pela minha mente, solitariamente.
O tempo continua lânguido,
efêmero e implacável!
Lembranças desfilam
pela minha mente,
insistentemente...

A outra e eu


Eu não sou eu, sou outra
que se passa por mim.
Aquela que é assim, meio...
Quem não quer nada.
Trancada no quarto,
deixa os medos todos
escaparem pela janela!
Eu não sou eu, sou aquela!
Que me olha, tão irônica...
Com seu telescópio
de fibra sobrenatural.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dois estranhos dividindo seus estranhos dias...


Os dois ali, há mais de sete dias sem se olharem nos olhos...
Há quase um mês sem uma palavra de afeto, um toque.
Mais de ano sem um beijo quente, um  abraço apertado!
De repente, num cruzar de pernas embaixo dos lençois...
Mãos acabam se encontrando, se tocando estranhamente.
Dois estranhos na mesma cama, dividindo travesseiros sujos.
Dois estranhos dividindo o mesmo teto por quase meio século.
E lembrar que um dia foram tão cúmplices, tão apaixonados...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Dias estranhos...


Meus dias estão tão estranhos...
Longos, cinzentos e silenciosos.
Como os longos dias do Laos,
como os labirintos de Angkor,
como o inverno de Amsterdã.
Já não reconheço os meus dias.
Já não tenho poder sobre eles.
Escorrem pelos meus dedos,
lentamente... Desconhecidos!
Como as águas do Mekong.
Meus dias são como nós dois,
frios, vazios, inertes, solitários.
E nós... Somos dois estranhos
dividindo seus estranhos dias...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sexo e amizade


Ele quer uma noite de sexo,
ela quer uma gôta de amor.
Ele passa a mão na sua bunda,
acaricia seus seios, suas pernas...
Ela só quer um abraço apertado.
Ele tão excitado! Quer lhe foder!
Ela quer sua mão entre as suas,
olhos nos olhos, beijo nas pálpebras.
Ele quer palavras impróprias
sussurradas em seu ouvido,
ela só quer um poema derretido.
Ele quase perdendo a paciência,
ela achando que essa é sua sina.
Ele perto de subir pelas paredes,
ela querendo namorar feito menina.
E a noite vai passando em claro.
ele reduzido a um frustrado falo,
Ela com os olhos marejados...
ele sem sombras de dúvida, puto!