quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Esse silêncio...


O teu silêncio inquieto
que mais parece um grito
engasgado!
Ou uma palavra áspera,
muda, calada...
A espera de algo.
Ou um palavrão sufocado.
Esse teu silêncio...
Que fica mal acomodado
na sua boca rígida
meio triste, meio cínica,
meio se fazendo de vítima.
Esse teu silêncio
ensurdecedor!
Me agonia, me perturba.
Esse teu silêncio...
Me penetra
como o som de uma turba.
Cala esse teu silêncio!
Que eu já não aguento mais
tanta tortura.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Samba do descanso e aché.


Eu quero uma rede de proteção
Persianas, revestimento fumê
Quero me esconder de você
Quero paz! Pouca emoção
Quero me retirar desse ringue
Já me dei por vencido
Quero descanso merecido
Férias, licença, décimo terceiro...
Quero ir pro meu terreiro
Ciscar nele feito um galo
Quero fechar o meu corpo
Me benzer com dona júlia
Colocar no meu pescoço
três guias brancas e azuis
Depois voltar prá Bahia
Pra lavagem do Bonfim
Tirar as correntes de mim
me jogar no mar azul
fazer a jornada da alma
Depois com toda calma
vou pensar em seu caso...
E talvez te ligo.

domingo, 18 de novembro de 2007

Solidão no décimo oitavo andar.


Da janela de seu apartamento,
num recém construído edificio,
desses que surgem todo dia,
sem que a gente sequer perceba.
Ela fuma seu cigarro carlton,
e canta num tom de voz agudo,
um samba de letra absurda.
E ele se faz de surdo,
na outra janela ao lado.
Ela lânguida, em camisola seda.
Ele ereto, apenas com a calça do terno.
Juraram amor eterno, numa igreja
coberta de flores. Há dez anos atrás.
Hoje nem se lembram mais.
Já nem se olham nos olhos.
Nem se chamam pelos nomes.
Sequer um gesto de afeto.
Só lhes restam as prestações,
do carro novo, do imóvel...
Eles permenecem sozinhos, ímpares.
Embora sob o mesmo teto.
Até que a morte os separe.
Porque hora após hora,
a rotina lhes deteriora.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Sombra, luz e borboletas...




Eu quero dentro de mim,
tudo que puder guardar
e quero o que souber esquecer
e tudo que conseguir lembrar.
Eu quero sal e açucar,
quero tristeza e astúcia,
quero meninas fazendo tranças.
tricot, versos ... Tenerife.
Quero beijo de sapo,
de príncipe e de patife.
Quero dentro de mim,
fogo, gelo, inspiração,
devaneios, tolerância,
saudades, lembranças...
Quero sombra e luz.
E borboletas... Azuis.
Quero mágoas perdoadas,
águas roladas, pedras...
no caminho, para chuta-las.
Quero estradas e tempo.
Quero mel e quero mais!