sábado, 25 de dezembro de 2010

Saudade quase mata a gente...


A saudade de você dói tanto...
Dói o corpo todo até o fundo da alma,
até o fio do cabelo, até não querer mais.
A saudade de você é  como brasa acesa,
me queimando por dentro, atiçando culpas,
trazendo lembranças de séculos e séculos atrás.
Resgantando baús ancestrais e cartas envelhecidas,
e lembranças de frases que foram mal  ditas ou engolidas,
e relances de sorrisos, de choros contidos, de soluços
gemidos no meio da madrugada, se misturando aos sonhos.
É uma saudade, uma gastura... Uma vontade de voltar no tempo.
E dizer as coisas que ficaram no ar daquela sala, daquele canto,
daquela vida pacata, naquela longa, longa tarde, triste e enfadonha.
Nós duas ali, sentadas, tecendo as linhas de um tempo, temporal...
Conversando nossos monólogos silenciosos e cheios de segredos.
Nos entreolhando de vez em quando, como se buscássemos cumplicidade.
Uma na outra! Como se quiséssemos lá no fundo ser amigas para sempre.
Mas nunca  tivemos  coragem de demonstrar afeto, ou nos beijar na face.
Quando percebemos, a vida pacata tinha ficado lá.  Fechada naquela sala!
E hoje essa saudade que me dói a alma, eu nem sei mais se ela é minha ou se ela  é sua...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ela...

Ela guardava afetos assim como mágoas,
guardava as tempestades em copos d'água,
e doses alopáticas de rancores e medos.
E disfarçados guardava os seus segredos.
Ela guardava tudo bem no fundo da sua alma.
Desejos inconfessáveis, verdades enviesadas...
E uma vontade danada de não envelhecer jamais.
Ela trançava pacientemente as linhas do seu tempo,
bordava em ponto cruz suas dores matizadas, seu ais...
Tecia ladainhas, rezava seu terço de contas plásticas,
e pedia a Deus todos os dias, pra nos proteger do mal.
Ela chorava cântaros e pitangas pela  madrugada adentro,
de manhã  reclamava do vento que assanhava seus cabelos.
Pegava a vassoura e varria as folhas que caiam pelo terreiro.
Lavava a alma na pia da cozinha cantando baixinho e sozinha.
Ensaboando, ensaboando sonhos que nunca seriam realizados.
E assim, mais outro dia daquela vida que ela jamais escolhera...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Estranha, mutante...

Trago em meu peito fagulhas de vidro
que me cortam a carne e arde.
E na garganta um grito preso, engasgado,
gás, inflamável, prestes a explodir.
Um coração absorto, meio torto e com frio.
Cabeça feita, laços, afetos, fitas desbotadas...
Nos olhos carrego um lago em tempestade,
Mas meus pés criam asas e não encontram limites.

domingo, 10 de outubro de 2010

Baús da minha história e outras bugigangas...


Ali estava minha história,
guardada em baús antigos
corcomidos pelo tempo...
Cartas velhas chorosas,
retratos amarelados,
revistas de variedades,
broches, pulseiras, óculos, colares.
Vestidos que dançaram em festas,
blusas que namoraram na esquina,
saias que arrastaram as barras
nas ruas de itapetinga...
Ali  minha história pulsava,
presa e solitária em baús de couro,
esperando a sorte de ser resgatada
e exposta em vitrines feito ouro.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

...Do que eu também gosto


Eu gosto do que é tosco,
mal acabado, imperfeito...
Eu gosto do que é feio,
do cheio de defeitos,
do que não é direito.
Gosto do lado avesso,
do ao contrário,
das feridas expostas,
cicatrizes à mostra.
De varizes, de rugas,
das linhas do tempo...
Gosto de sorver veneno.
Do que está difícil,
do que está amargo,
do inatingível,
do inaceitável,
do calafetado.
De carregar o fardo,
do peso nos ombros...
dos escombros,
da penumbra,
do soluço,
do drama,
do medo,
do fundo,
do poço,
do caos.




domingo, 25 de julho de 2010

...


Ando absorta por aí... Reticente...
Meio catatônica, meio demente.
Ando dando voltas trôpegas
sobre mim mesma.
tropeçando no próprio cadarço,
embaraçada nas linhas do tempo,
nas meadas desbotadas do passado.
Desatando nós imaginários.
Alinhavando novos presságios.
Ando absorta por ai...
Tecendo novos ventos.

Sou imensa...


Sou uma multidão em desalinho
ora exaltada, descontrolada, até...
ora apática, beirando a inércia.
Sou uma multidão solitária
improvável e complexa.
cantando louvores numa igreja
de subúrbio, exercitando sua fé...
Sou uma multidão em onda num estádio,
ou correndo a esmo, pelas vielas de Granada...
Sou uma multidão sem estribeira, sem nada!
Nem esperança nem morada,  nem  amanhã.
Apenas uma multidão confusa e voraz,
devorando as últimas folhas de relva
do jardim de whitman...

Estranha



Quem é essa estranha sangrando em minha cama,
envolta em meus lençois, tv ligada de madrugada...
Quem é essa estranha, insana, gemendo assim?
É uma parte esquecida de mim,
uma parte que já não conheço mais,
que já se foi há um tempo atrás,
e agora volta pra me assombrar.
Quem é essa estranha que me habita
insistente, que me faz repetir loucuras,
gestos, trejeitos que já não quero mais.
Quem é essa estranha  insone em minha cama
um pesadelo que não me deixa em paz ...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ausência...


Finalmente percebi que você se foi.
Embora ainda arraste correntes
em minha sala, durma na minha cama,
beba do meu café...
Embora ainda faça planos
de viagem, pra nós dois.
Mesmo assim, você se foi.
É que você ainda não se deu conta!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Verso ao avesso...


Faço verso quando estou pelo avesso.
Peito sangrando, alma em chamas,
cicatrizes à mostra...
Faço verso quando sou carne viva,
quando sou quase morta.
Quando nada mais tenho,
nada mais a perder...
Faço verso!
estou completamente nua,
completamente exposta.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

caramujo on line


Sou como uma sombra,
vagando pelos virtuais,
virtuosos campos do senhor...
Um amo bonito e complexo,
povoa minha vida insólita,
traça minha rota simplória,
guia meu destino incerto.
Meu desatino é grande,
é visível.
Vago em circulos caóticos,
sem uma meta plausível.
sem um farol,
sem um norte.
Vivo em stand by permanente,
Numa inércia mórbida,
meio dormente...
Hibernando em pleno verão,
esperando um plug mágico,
que possa acender uma luz,
nessa imensa escuridão.
Ligo o computador
me conecto!
Sou um caramujo deprecibernético
on line!
Cujo pecado e dor se divisam
entre o quase real, o delírio,
e um sono...

domingo, 18 de abril de 2010

Finque bandeira em meu chão...

Te dou meu porto seguro,
eu juro...
Minha alma à deriva,
meu barco à vela.
Te dou minha janela
pra você se debruçar.
Minha cama, minha febre,
meu sexo, meu colo...
Te dou tudo que eu posso,
até o que não posso dar.
Meu signo, meu leme,
minha sina, meu rumo
meu eixo, eu deixo
você tomar posse.,,
Te dou tudo, tudo
que você quiser de mim,
tudo que você puder levar...
Mas fica, e  finque bandeira
em meu chão!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Uma noite de fossa quando descobri que o nosso amor já era...


Rasguei sua camisa amarela, aquela que eu mesma fiz, com três metros de entardecer...
Apaguei do meu PC seus vestígios todos. Fotos, músicas, poesias...
Qualquer coisa que me  faça lembrar o casal que fomos um dia.
Tomei uns comprimidos pra dormir, pra esquecer que estou sofrendo,
quase morrendo de tantas saudades e dor...
Bebi quatro taças de vinho, depois derramei mais de mil lágrimas...
(Manchando antigas cartas de amor.)
Brindei sozinha à minha solidão... E procurei uma faca na cozinha,
pra cortar laços, pulsos, nós... Finca-la de vez no próprio coração.
Apertei com tanta força minha mão vazia, como se a sua estivesse ali.
Esmurrei a parede de azulejo do banheiro e te vi de relance no espelho,
balançando sutilmente a cabeça, e talvez  pensando em voz alta:
"Baby, o amor tem prazo de validade, e efeitos colaterais desastrosos"...
Procurei outra garrafa de vinho!
Querendo embebedar lembranças e mágoas...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Repiende!




Estou cansada de migalhas,
de meia sola, de meia boca,
de meias palavras, de esmolas.
Cansada de pão dormido,
chiclete mascado, café requentado,
coração partido!
Estou cansada de me fazer de boba,
de lhe fazer a corte,
de me fazer de forte.
Não suporto mais essa meio morte!
Ah! Esse desencanto de mim...
Esse desencontro assim, assim.
Estou afim de virar a página,
de fazer um filme,
de viver uma mágica...
E ser feliz no fim!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Uma historinha do peixe bom...



Numa tarde quente de verão,
um certo peixe mergulha
em águas profundas.
Encontra um oceano novo.
Infinitamente distante e belo.
É lá onde tem aquele submarino amarelo!
Onde toca o melhor som.
Pra lá só vai peixe bom.
É o céu do fundo do mar...

domingo, 3 de janeiro de 2010

precipício...




Estou na beira do abismo,
segurando uma corda puída...
Tenho duas alternativas:
Ou eu pulo...
Ou a corda se rompe
e eu caio.
Então crio asas .