segunda-feira, 12 de outubro de 2020

 Metade nefasta, 

metade é festa 

metade se refastela

 metade se esfacela

metade se resvala em água 

metade se enquadra em régua

metade se esgueira em sombras 

metade se ilumina em trevas

metade se perde na estrada

metade se acha na curva

metade doce, metade amarga

metade cristalina, metade turva

metade inteira, metade metade...

Colo

Meu colo já não conforta nem preenche seu vazio
nem aquece seu frio, nas longas noites de inverno.
Meus ombros já não carregam mais suas queixas,
nem sou mais aquela gueixa do olhar tão terno...
nem minhas mãos secam suas lágrimas ou afagam
sua cabeça, agora, com madeixas  já meio brancas...
Já não sou um porto seguro, um farol na tempestade,
nem nada!
Minhas histórias parecem estórias de Trancoso.
Sem pés nem cabeça! talvez nem mereçam atenção.
Talvez seja melhor estar livre de mim, talvez assim,
suas asas cresçam e alcem vôos para campos mais férteis,
para além das fronteiras da razão...

Nostalgia...

Hoje amanheci com saudade de pessoas que não conheci, de lugares por onde nunca andei, de coisas que nunca fiz, projetos que não concluí, situações que nem vivi... Hoje amanheci me derretendo toda. Procurando minhas asas enferrujadas, cartas amareladas, memórias esquecidas nas paredes mofadas. Hoje amanheci assim, tomada de uma nostalgia, uma coisa, uma gastura sem fim,  procurando sabores e aromas de um tempo perdido no tempo, quem sabe, para suavizar os tempos sombrios de agora...
hoje amanheci em caos e confusão! Soda cáustica engasgada na garganta, um fio de navalha
a percorrer veias e provocar frio na espinha. Pétalas brancas pingando entrepernas, flor roxa sangrando num coração meio vazio, e a voz empedrada, a cantar cantigas silenciosas, quase sussurros, de doer por dentro... na verdade, acho que hoje nem amanheci, o sol não brilhou ainda!