quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Pra lá de Marrakech



Eu sou a multidão na praça de Marrakech.
O flautista que toca pras cobras.
A odalisca perdida no tempo.
O vendedor de dentaduras...
A moça bérbere, tão pura...
Eu sou a mosca que ronda o tajine.
Eu sou o haxixe oferecido nas esquinas dos becos.
Eu sou os frutos secos amontoados nos cestos.
Eu sou a cor dos temperos.
Sou o cheiro dos cortumes.
A fumaça dos narguilés.
As tatuagens nas mãos da mulher.
Eu sou a fé mulçumana.
A medina, a mesquita.
Eu sou a roupa esquisita.
Sou o arroto do camelo.
Sou a beleza e o medo.
Sou as muralhas ocres que circundam a cidade.
Sou a vaidade velada e tímida da menina
do rímel nos olhos, do rosto coberto.
Sou a tinta dos homens azuis do deserto.

Sou a tenda do tuareg sob o céu que nos protege.
Sou a pedra vermelha que caiu do colar.
Sou o luxo suntuoso do palácio de Alá.
Sou o chá de hortelã.
Os novelos tingidos, de lã.
Sou hum dirram.
Os tapetes pendurados nas paredes.
Sou a água salobra, sou a sede.
Sou o gelo derretido das Cordilheiras Atlas.
Sou as pétalas de rosas caídas no vale.
Sou a pata quebrada da ovelha perdida.
Sou uma centelha de luz que ainda brilha.
Sou o deserto, sou o oásis.
Sou o mar de Essauíra.

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